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História

Os primeiros 90 anos

Com sede no lugar da Gandarinha, freguesia de Cucujães, concelho de Oliveira de Azeméis, a Fundação Condessa de Penha Longa, instituição particular de solidariedade social é a sucessora do Asilo de Gandarinha, instituição particular de assistência, fundada ao tempo do Rei D. Luís pelos Viscondes da Gandarinha, depois Condes de Penha Longa, a 6 de Setembro de 1876.

Durante décadas muitas crianças desfavorecidas frequentaram a Instituição e ali receberam a sua educação completando os seus estudos até ao actual 4º ano de escolaridade, financiadas apenas pelos fundadores e sob a sua orientação.

Em Fevereiro de 1891, na sequência de contrato assinado para o efeito com a Congregação das Irmãs de S. Vicente de Paulo, foi às mesmas confiada a missão de professoras da instrução primária. Vivendo, ainda, em comunidade numa parte da casa, deve-se em muito, à respectiva Congregação, a quem viria a ser confiada por disposição testamentária a condução do ensino, a preservação dos ideais iniciais.

Quando em 1901 foi encerrado o Hospital de Cucujães, a Condessa de Penha Longa decidiu alargar a acção da Instituição à área da saúde, criando dentro da Quinta da Gandarinha, um Dispensário onde os mais necessitados da freguesia poderiam recorrer gratuitamente a serviços de assistência médica, medicamentos e tratamentos diários de enfermagem ministrados pelas Irmãs de S. Vicente de Paulo.

Em 17 de Setembro de 1921 com a sua morte, foram legados pela Condessa de Penha Longa à Instituição valores, terrenos e edifícios em Cucujães, bem como a própria Quinta da Gandarinha com todos os edifícios nela existentes como forma de possibilitar que a obra social tivesse continuidade no tempo. Porém, passados alguns anos, o rendimento do património legado veio a revelar-se insuficiente para fazer face ao conjunto das despesas da Instituição, pelo que o sobrinho e herdeiro João Pinto Leite (3º Visconde dos Olivaes), dando continuidade à tradição de caridade da Família, avistou-se com o então Director-Geral da Assistência, Dr. Possolo, com a finalidade de solicitar algum apoio financeiro estatal. Avaliada a situação e escolhido o modelo jurídico-institucional mais adequado, foram então redigidos os estatutos do Asilo da Gandarinha, os quais viriam a ser aprovados pelo então Ministro do Interior a 5 de Agosto de 1940, bem como pelo Governador Civil de Aveiro por alvará concedido a 8 de Novembro do mesmo ano. O Asilo da Gandarinha era assim reconhecido como instituição de utilidade pública integrado nos Serviços de Assistência, adquirindo, finalmente, personalidade jurídica. Daqui viria a resultar que em 1944, após bastante insistência nesse sentido, a Direcção-Geral de Assistência viesse a aprovar um subsídio anual de 44 mil escudos (220 euros), mantendo-se a Família Pinto Leite como a principal fonte de recursos da Instituição.

O Relançamento

Apesar dos permanentes esforços entretanto desenvolvidos pelos membros da Família no sentido de obterem mais apoios financeiros estatais, até porque as suas condições patrimoniais se alteraram significativamente na sequência da crise económica mundial de 1929, nenhum outro subsídio adicional foi obtido, pelo que a Instituição entrou num período de crise acentuada. A ausência de recursos financeiros começou a não permitir melhorar o nível geral da educação, as condições físicas das instalações bem como a própria alimentação que era fornecida às crianças, às Irmãs de S. Vicente de Paulo e ao restante pessoal que trabalhava na Instituição.

Foi neste enquadramento que, em 1964, Fernando Pinto Leite (5º Visconde dos Olivaes), assumiu a liderança da Instituição. Face às ameaças feitas pela Direcção-Geral de Assistência de que encerraria a escola por falta de condições mínimas de funcionamento, o representante da Família iniciou um processo de auscultação da população residente no sentido de apurar que expectativas os cucujanenses teriam relativamente à Instituição, cedo se apercebendo de que tudo teria de ser feito para impedir o Estado de encerrá-la. Foi assim dada prioridade à realização de um conjunto de estudos que permitissem viabilizá-la, os quais tiveram como consequência a aprovação de um ousado plano de reconversão, o qual se tornou possível também graças à alienação de algum do património imobiliário.

Encetou-se então a reconversão das actividades agrícolas tendo sido plantado um pomar com 2,5 hectares, hortas e ainda criados animais diversos que vieram a possibilitar, de imediato, a melhoria da alimentação de todas as pessoas que frequentavam e trabalhavam na instituição. Em consequência dos investimentos realizados e da gestão mais eficiente entretanto imprimida, a Instituição passou a produzir e a comercializar, de forma intensiva, produtos agrícolas e pecuários, com o lucro dos quais, foi sendo possível durante vários anos manter e melhorar o ensino e o apoio geral às crianças.

Em 1974 o Asilo da Gandarinha, que nessa altura dispunha de um orçamento anual de 744 contos (3720 euros), passaria por várias vicissitudes, o que veio a justificar uma alteração estatutária relevante, conduzindo o mesmo à sua transformação na actual Fundação Condessa de Penha Longa, cujos estatutos foram aprovados por despacho ministerial de 12 de Julho de 1975 e publicados na 3ª série do diário da República nº 183 de 9 de Agosto do mesmo ano. Entre as principais alterações em relação ao modelo anterior ressaltava a criação de um Conselho de Direcção e um Conselho Fiscal integrando pessoas de Cucujães.

Apesar de ter sido projectado ainda em finais dos anos 60, só em 1981 veio a ser inaugurada a Creche-Jardim de Infância com capacidade para 90 crianças, a qual, por sua vez, viria a sofrer uma ampliação para 130 crianças doze anos mais tarde. Nesta altura, e desde 1979, já o Estado reforçara os apoios à instituição, designadamente, aumentando o apoio mensal, por aluno, de 2,5 euros para 4 euros! Valiam, de facto os donativos, a agro-pecuária e os subsídios pontuais.

Desde o seu inicio que a Instituição se ressentiu, na sua acção, das enormes contradições entre, por um lado, a vontade em promover o crescimento cultural da comunidade e, por outro, a premência em ocorrer à satisfação das necessidades mais básicas de muitas crianças e jovens.

Da sua história destacam-se sucessivos projectos e experiências praticas que tentaram responder às óbvias carências do ensino público e do apoio social e que se reflectiram num crescente conjunto de meios e serviços ao dispor da comunidade.

Hoje, a Fundação já com estatutos modernizados e em que o Órgão Conselho de Direção se transformou em Conselho de Administração, é confrontada com diferentes necessidades que exigem mais do que a clarividência do papel da cultura em geral e da educação em particular, sensibilidade e abertura para a complexa realidade que nos rodeia. Falar da Fundação Condessa de Penha Longa, enquanto prestadora de serviços de apoio às populações nas suas vertentes educativa e assistencial é referir uma parte do século 19, todo o século 20 e, para já, o inicio do século 21.

Períodos houve em que o combate à fome, à miséria social e ao analfabetismo canalizaram todas as energias da Instituição. Foi o tempo em que, sem um Estado socialmente interventivo, a solidariedade era eminente assumida pelos particulares.